21.5.08

Café com leite, pingado, média, caffè latte....

Não é de hoje que sabemos o quanto o brasileiro gosta de café. Em qualquer canto que você vá, tem sempre uma xicarazinha te esperando. Após o almoço todos tomam um cafezinho, no meio da tarde tem a pausa do café, e assim por diante.

Outro clássico é o café com leite, conhecido também por pingado, ou média (que em alguns cantos do Brasil, na verdade, quer dizer pão). De manhã, se você entrar em uma padaria qualquer, verá que a maior parte das pessoas se delicia com um pão com manteiga e um pingado. Simples assim. Mas não pense que você pode encontrar isso em qualquer canto do mundo.

Tudo bem, café e leite tem em todo lugar, mas nem todos têm o costume de tomá-los juntos. Recentemente, de férias na França, sofri para conseguir meu costumeiro pingado de manhã.

Em Lyon, segunda maior cidade francesa em área urbana, não é comum você ver os "locais" sentarem em um café para degustar seu desjejum. Ao invés, muitos passam em quiosques e pegam seu croissant para viagem. Você até pode pedir um cafe au lait, mas geralmente o que vai receber em troca é uma xícara de café puro e um potinho mínimo de plástico com leite frio. A idéia é que você faça a mistura e se satisfaça com isso.

Já se você descer para a Itália, e gostar tanto de bebidas com café quanto eu, vai se sentir no paraíso. Literalmente. Qualquer casa que você encoste, tem lá uma seleção de cafés pra escolher. Espresso, Ristretto, Caffè Latte, Caffè Macchiato, Latte Macchiato, Cappuccino, Caffè Corretto...

É muito interessante ver o quanto os italianos respeitam o café. No Brasil, por exemplo, é bastante comum você ver nos buffets de café da manhã de hotéis, ou em padarias, uma garrafa térmica. Lá não. Nos hotéis que servem o desjejum, por mais simples que seja, tem uma pessoa só para preparar sua bebida - fresquinha.

A melhor parte, pra mim, é a espuma do leite no Caffè Latte. Perfeita, cremosa, chegando até a ficar espessa. Nunca provei igual em qualquer outro lugar.

Certa vez assisti a uma entrevista com Marco Suplicy, proprietário do Suplicy Café, um especialista na área, quando ele explicou que formar essa espuma chega a ser mais difícil que tirar um bom espresso. Palmas para os italianos, portanto, que não decepcionaram em nenhum momento.

Outro fato interessante de se levantar é a variedade de pó de café vendida nos mercados. Há produto de diversos lugares do mundo (especialmente da América Latina), para diferentes tipos de cafeteira, além do orzo, que nada mais é que cevada torrada e moída, usada em cafeteiras especiais.

Para quem gosta de variedade, os italianos também criaram mil tipos de cafeteiras, nas mais diversas cores, formatos e utilidades - como fazer cappuccino ou caffè latte sozinha. A Bialetti é uma das marcas mais legais.

Vale ainda dizer que o Brasil é o segundo maior consumidor mundial de café, o que, no entanto, não significa que os brasileiros degustem os melhores pós. Segundo Suplicy, são os escandinavos e japoneses que têm esse privilégio, diretamente relacionado à renda per capita dos países.

Se você, aqui no Brasil, quiser tomar o café que os estrangeiros tomam, deve procurar um "tipo exportação", pois nós mandamos para fora nossa melhor produção.

Dica: Começou na última terça-feira, dia 20, uma exposição no Shopping Pátio Higienópolis chamada "Cafés do Mundo", que apresentará as mais diferentes cafeteiras criadas no mundo desde o século passado. O evento termina no próximo dia 31.

19.5.08

(Re)Descobrindo a Itália

Não, não desisti do blog, somente tirei férias. Férias de verdade. Daquelas de ficar quase um mês sem ver a cara de um computador, quando os dedos até enferrujam e você tem que fazer um trabalho de readaptação pra conseguir digitar de novo. Nessa folga, passada além mar, redescobri a culinária italiana.

Devo dizer primeiro que o povo daquele país é bem parecido com as “mammas” retratadas nas novelas brasileiras. Dramáticas e passionais, alegres, geralmente mal-educadas, mas acolhedoras, e sempre, sempre “falando com as mãos”.

Isso se reflete, de certa maneira, na comida local. É impressionante como nós brasileiros podemos nos sentir em casa ao nos sentarmos em uma mesa italiana. É o que se chama hoje de “confort food”.

Um bom prato de macarronada quentinho está no cardápio de boa parte dos países ocidentais. Outro dia, sentada em um restaurante à beira mar no belíssimo litoral de Cinque Terre, percebi que a família na mesa ao lado era dos Estados Unidos. Havia um rapaz com uma cara bem típica de jogador de futebol americano, daqueles que só come “trash food”. Foi fácil perceber que ele não se arriscaria nas iguarias locais e então partiu direto para sua zona de segurança: “A spaghetti al ragu, please”.

Esse é o lado mais acolhedor da comida italiana. Ela recebe todos de braços abertos, oferecendo o que tem de mais fresco, mais saboroso e tradicional, despertando a gula em qualquer hora do dia.

Já a paixão que o italiano tem pela comida local, pelo que nasce e cresce em suas terras, remete ao lado passional do povo. As melhores comidas que você poderá provar no país serão aquelas feitas há gerações na cidade onde você estiver, são os pratos que as mammas ensinaram para seus filhos e que representam o orgulho da família.

Uma vez em Milão, prove o “vero vecchio risotto alla milanese”. Você poderá encontrá-lo no restaurante Il Coriandolo, na Via dell’Orso, centro da cidade. Chegará à sua mesa um prato amarelinho, com um arroz cremoso, no ponto certo. Aproveite o pão do couvert pra não deixar nenhum restinho no prato.

Em Assis, o segredo é aproveitar o strangozzi, uma massa daquela região, meio tortinha, mais grossa, que acompanha bem um molho do famoso e caro tartufo negro. O restaurante Medioevo absorve bem essa tradição, num salão com teto baixo, criando um clima medieval que a cidade já tem, e com um serviço muito simpático.

Agora, se você quiser aproveitar o lado festeiro do italiano, pode atacar uma tradicionalíssima “bistecca alla fiorentina”. Mas já aviso, esse prato não é para qualquer um! A peça de carne de boi pesa sempre perto de 1kg, tem uns 3 dedos de altura e é servida praticamente crua no meio. Extremamente macia, ela tem um sabor natural, fantástico. O mais divertido, porém, é se deliciar com o osso no final –e ver o visinho fazer o mesmo!.

(Re)Descobrir a culinária italiana é também voltar um pouco às nossas origens. Nos faz valorizar o que vem da nossa terra, dos nossos antepassados, a pensar no que realmente importa pra nós.