21.12.06

Comece com sabor

Chega o final do ano e nós ficamos muito cansados. A correria aumenta porque todo mundo quer se encontrar, porque temos que comprar presentes, porque os projetos têm que ser finalizados até o último dia de dezembro, por isso e aquilo. Cada um tem o seu motivo.

Mas aí chega o reveillon e parece que um peso sai dos ombros. A sensação é que há uma renovação na noite de 31 de dezembro para 1º de janeiro. Afinal de contas, o ano já acabou, os problemas que ele trouxe podem ficar para traz e nós podemos nos preocupar com novos casos. Pode ser só sensação, mas podemos aproveitar e usufruir dela, mesmo que apenas por uma noite.

Se você é um daqueles que não se sentem assim, que acham que a vidinha vai continuar a mesma, que não é uma noite de comemoração que vai fazer diferença, então afogue as mágoas. Aproveite essa receitinha de suco de romã para atrair dinheiro (tá bom, não vai atrair nada, mas é gostoso!) e essa de saladinha de camarão que ao menos você vai começar bem mais um round.

Suco de romã

Ingredientes:
- 2 litros de água
- ½ xíc de mel
- 2 pedaços de canela em pau
- 3 cravos-da-índia
- 20 romãs maduras


Modo de preparo:


Faça um chá com a água, o mel, a canela e o cravo. Coloque tudo junto em uma penal, ferva por uns 2 minutinhos e, depois de esfriar, leve à geladeira.

Lave as romãs e role-as sobre uma superfície com um pouco de força como se faz com o limão, para quebrar suas fibras e ele soltar mais suco. Abra a romã e bata em seu fundo com uma colher de pau para que saiam os carocinhos. Descarte a parte branca (ela é amarga).

Coloque essas sementes em um pano de prato limpo e pressione-as para tirar o máximo de suco possível. Junte o líquido ao chá gelado, misture e sirva com gelo picado.


Salada de camarão


Ingredientes:
- 50 camarões grandes e limpos
- 2/3 xíc. de azeire
- 750 ml de vinho branco seco
- 1 buquê de ervas (1 folha de louro, ramos de salsinha, manjericão, tomilho, folhas e talos de salsão)
- 18 laranjas-baía
- 1 col de gengibre ralado
- 6 mexericas
- ½ xíc de folha de manjericão
- ½ xíc de folha de hortelã
- 18 xíc de folhas verdes variadas (alface, agrião, rúcula, almeirão etc)
- sal e pimenta-do-reino

Modo de preparo:

Limpe os camarões, coloque-os em uma travessa com sal e azeite suficiente para besuntar todos. Misture bem.

Aqueça em uma panela o vinho, o buquê de ervas e água suficiente para criar vapor. Na boca da panela vai um utensílio para se cozinhar no vapor. Espalhe o camarão nele e, por partes, vá cozinhando os 50 (quando ele estiver pronto deverá mudar de cor. Isso deve levar uns 5 minutos).

Depois de cozidos, coloque-os em uma travessa, cubra-a com filme plástico e leva a geladeira por, no máximo, 1 noite.

Para fazer o molho, esprema 12 laranjas, passe seu suco por uma peneira e leve a uma panela. Deixe ferver até reduzir a aproximadamente 4 col. Ficará um xarope grosso. Acrescente a ele o sal, pimenta e gengibre. Coloque o restante do azeite, e, se precisar, coloque açúcar para corrigir a acidez.

Descasque as mexericas e o restante das laranjas (separe os gomos sem a parte branca). Guarde na geladeira cobertas com um filme plástico.

Somente na hora de servir misture o camarão, os gomos, o manjericão, a hortelã e o molho, acerte o sal e a pimenta e ponha sobre a cama formada pelas folhas verdes.

Receita de Natal


Existe época mais chata que final de ano? Acabou o clima natalino, as pessoas já não se emocionam mais com o sentido do natal, com a virada do ano, início de uma nova fase para muitos. A gente só corre para comprar os presentes, para comparecer a amigo-secreto, reunião de amigos da escola, do trabalho, do prédio, etc, etc, etc.

Você passa o ano inteiro trabalhando ao lado do cara sem se importar se ele está doente, se terminou com a namorada, se está cansado e naquele dia queria com todas as forças estar em casa, mas porque chegou o final de ano você TEM que sair com ele para comemorar. Eu detesto essas coisas, elas me deixam assim, ranzinza.

MAS, um amigo trouxe de volta, pra mim, o espírito que eu gosto de ter no final do ano. Hoje cheguei para trabalhar e fui recebida por uma cartinha escrita com muito carinho, uma declaração de amor, e isso me encheu o coração. A diferença dos casos que comentei é que nós somos amigos o ano inteiro e procuramos zelar um pelo outro sempre, mas o final do ano inspira um algo a mais. O toque dele foi a carta, o meu é uma guloseima, o seu pode ser um abraço e o do fulano um passeio no parque. Mas não adianta fazer isso SÓ no final do ano, faça sempre, e nessa época incremente um pouquinho.

Pra minha ceia de Natal eu quero uma coisa diferente, então resolvi fazer uma terrine de campagne e compota de laranja. Segue a receita do livro Cozinhando para Amigos (fantástico):

Ingredientes para a terrine:

- 250g de lingüiça suína fresca
- 1 kg de pernil de vitelo ou suíno em cubo médio e bem limpo (ou se preferir patinho ou coxão mole)
- 1 cebola grande picada
- 2 dentes de alho picadinhos
- 6 folhas de louro
- 4 ramos de tomilho
- 2 ramos de alecrim
- ½ col. (chá) de canela em pó
- 1 pitada de cravo-da-índia em pó
- ½ xíc. de conhaque
- 1 xíc. de vinho tinto
- 200g de presunto cru em fatias
- 3 ovos
- 2 xíc. de pão de forma branco sem casca e esmigalhado
- 2 – col. (sopa) de mostarda dijon
- 1 col. (sopa) de sal (aproximadamente)
- ½ xíc. de pistache sem casaca torrado
- pimenta-do-reino

Ingredientes para a compota de laranja:

- 2 laranjas médias
- ½ xíc. de vinagre de vinho branco
- 2 xíc. de açúcar
- 1 canela em pau
- 2 cravos-da-índia

Modo de preparo:

Você precisa preparar a terrine com 2 dias de antecedência.

Tire a pele da lingüiça e coloque-a em uma travessa com o pernil, 1 folha de louro, cebola, alho, metade das folhas de tomilho e alecrim, canela, cravo, conhaque, vinho e pimenta. Misture tudo e cubra. Deixe na geladeira por no mínimo 3 horas e no máximo 12.

Coloque o forno para aquecer em 180ºC. Ferva uns 2 litros de água (você fará um banho-maria).

Forre com metade do presunto cru uma terrine grande.

Tire o louro da mistura de carne. Passe-a por um moedor de carne ou pelo processador (nesse caso use a tecla pulsar e não deixe que vire uma pasta homegênea). Em uma tigela coloque a carne, os ovos, o pão, metade da mostarda, o pistache, sal, um pouco de pimenta e misture bem.

Coloque a mistura na terrine e alise sem prensar.

Por cima coloque o restante da mostarda, o louro, tomilho e alecrim. Cubra com o presunto cru que sobrou, forre com papel alumínio.

Pegue uma forma grande e coloque nela a água fervida até chegar à metade da altura. Coloque lá a terrine e leve ao forno por mais ou menos 1h30. Complete com água sempre que secar.

Para ver se ela está pronta, coloque uma faca no centro da terrine e deixe uns 10 segundos. Se a faca sair quente, está ok.

Tire do forno, deixe esfriar e aí coloque na geladeira por pelo menos 12 horas ou até 3 dias.

Para a compota:

Na véspera, pelo menos, lave as laranjas, seque-as, corte-as em rodelas de 0,5 cm de espessura, com casca e tudo. Tire as sementes. Coloque tudo em uma panela média, cubra com água e aqueça. Após 30 minutos a partir da fervura, desligue o fogo. Descarte a água.

Em outra panela aqueça 1 litro de água, o vinagre, o açúcar, a canela e o cravo, mexa até dissolver tudo e deixer ferver por uns 5 minutos. Junte a laranja e cozinhe em fogo baixo por mais 30 minutos ou até ela amolecer.

Depois de esfriar transfira para um pote hermético e guarde na geladeira por até um mês. Sirva a terrine com a compota.

16.12.06

Uma estrela de Natal

Ontem fui a um daqueles jantares de Natal que sempre organizamos usando a data para rever os amigos. Foi no apartamento de uns colegas recém-casados que moram no ABC. Uma fofura o lar, cheio de referências ao Natal, com presépio e Bíblia aberta – uma coisa que hoje só encontramos na casa de (alguns) nossos pais.

Pois bem, depois de enfrentar um trânsito de 2 horas e morrendo de fome, chego ao meu destino. Os anfitriões estavam terminando de dar os toques finais na comida e alguns amigos estavam na cozinha conversando e tirando a atenção deles.

Uma delicadeza da dona da casa, que deveria ser apenas um gesto de carinho para com os demais, revelou a ignorância da nossa geração, criada em apartamentos comendo comidas congeladas de supermercado.

Um de nossos amigos viu o prato de arroz com legumes enfeitado com carambolas e soltou pra mim, que chegava naquele momento: “Olha só, ela até cortou a carambola em formato de estrela!”.

Tiramos sarro dele e continuamos a conversa, meio que sem querer acreditar. Mas era verdade, ele nunca tinha visto uma carambola in natura. Nunca. Como assim?! Eu comia carambolas no pé na chácara da minha amiga Roberta quando tinha meus 15 anos!!

A dona da casa o presenteou com uma carambola e o ensinou a “cortar em formato de estrela”. Uma pena. Ele merecia continuar achando que ela tinha tido o enorme trabalho de fazer aquelas estrelinhas douradas.....

14.12.06

Pastel de belém ou de nata?


Na semana passada meu marido esteve em Portugal, numa cidadezinha chamada Santa Maria da Feira, próxima do Porto. Depois de uma viagem de umas 20 horas, que incluiu atrasos já corriqueiros no Brasil, ele chegou à cidade com fome, o pobre, e foi a um barzinho que tinha ao lado do hotel ver o que conseguiria comer.

Eis que ele pede um pastel de belém, e o aponta na vitrine. Como assim pastel de belém?! Isto é um pastel de nata! Tudo bem, me vê um pastel de nata então, por favor. Sem saber a diferença, ele se deliciou com o doce e ainda teve a coragem de perguntar para a brava senhora qual era a diferença, e nem ela soube responder. Minha avó chamava de pastel de nata, então é pastel de nata.

Coube a mim, portanto, descobrir qual é a diferença das delícias –não que isso importasse tanto na hora de comê-las. Mas, confirmando minhas suspeitas, percebi que são iguais. Apenas os originais, fabricados em Belém, são chamados de pastel de belém. No resto de Portugal eles recebem o nome de pastel de nata.

A história desse pecado em forma de doce é bem interessante. Segundo conta o site da doçaria que o produz desde 1837, no início do século XIX, em Belém, havia uma refinaria de cana-de-açúcar nas proximidades do Mosteiro dos Jeronimos. Com a Revolução Liberal de 1820, todos os conventos de Portugal foram fechados em 1834.

Um homem não identificado do Mosteiro, na tentativa de sobreviver, começou a vender no mesmo local um pastel doce, que logo foi chamado de pastel de belém. Em 1837 começou uma produção maior do doce, cuja receita é mantida secreta até hoje, e onde os pasteizinhos ainda são produzidos artesanalmente.

Mas como sou enxerida, acabei descobrindo uma receita, que se não é a original, está perto. O trabalho é grande, portanto se você está muito atarefado com os preparativos das festas de fim de ano, indico os pastéis do Espírito Santo, um bar ali do Itaim, na Horácio Lafer, 634.

Ingredientes:

Para a massa folhada:

• 1 kg de farinha de trigo
• 1 kg de manteiga amolecida (dividida em 2 blocos de 150 g e 850 g)
• 20 g de sal
• 1/2 litro de água

Para o Recheio:

• 1 litro de creme de leite fresco
• 18 gemas de ovos
• 18 colheres de açúcar


Modo de preparo:


Para a massa folhada:

• Misture a farinha, 150 g de manteiga, o sal e a água em uma batedeira e bata devagar, até formar uma bola;
• Retire, faça uma cruz em cima e guarde na geladeira por 2 horas;
• Abra a massa em cruz e coloque 850 g de manteiga dentro;
• Dobre como se fosse um envelope, dando uma volta simples e uma volta dupla na massa e deixe descansar por 1 hora;
• Dê mais uma volta simples e outra volta dupla na massa e deixe descansar por mais 1 hora antes de usar;
• Coloque em forminhas de empada e deixe descansar por 30 minutos.

Para o recheio:

• Num recipiente coloque primeiro as gemas, depois o açúcar e por último o creme de leite fresco;
• Leve ao fogo e vá mexendo sem parar até ferver;
• Retire do fogo, coloque em uma vasilha e leve à geladeira até a calda ficar cremosa;
• Com o creme encha as forminhas que já estão com a massa e leve ao forno pré-aquecido à 350º;
• Deixe assar até a massa e o creme ficarem dourados.

4.12.06

E as empanadas, cadê?

Ah! As empanadas. Pra ser bastante sincera fui para a Argentina mais ansiosa pelas empanadas que pelo churrasco. Eu iria comê-las pelo menos duas vezes por dia, no café da manhã e no chá da tarde.

Chegando a Buenos Aires a primeira coisa que fui fazer foi matar a fome depois de horas no aeroporto por causa dos problemas com os controladores brasileiros. Caminhando pelo centro me sento em um café aparentemente tradicional, apesar da localização turística. Depois de descobrir que os garçons geralmente demoram uns 10 minutos para irem até sua mesa anotar o pedido, mesmo você o chamando insistentemente –eu estava com fome!-, tive minha primeira frustração: “Só temos empanada de frango”. Bom, manda duas, por favor.

A danada até que era saborosa, mas não chegava nem aos pés daquelas que eu costumo comer em São Paulo, em uma casa de empanadas de um argentino.

Minha busca continuou e eu fui percebendo que comer uma empanada de carne em Buenos Aires seria muito difícil. “Só temos de frango”, era o que me diziam em cada casa que entrava.

Contando os sete dias que fiquei na capital, posso dizer que consegui comer empanadas de carne somente três vezes. Meus planos de café da manhã e chá da tarde foram esquecidos e trocados por croissants e assados de queijo e cebola.

Daquelas de carne que consegui encontrar, as do restaurante La Chacras eram as melhores. Um local típico, que se auto-intitula o mais tradicional da Argentina, as serviam como entradas. Em meio a cabeças de veados e javalis empalhadas nas paredes, me deliciei.

Elas eram assadas no ponto certo e tinham a umidade ideal, que deixava o recheio com um caldinho perfumado de especiarias, com uma carne moída bem temperada dentro.

Tentando descobrir se Buenos Aires é consumidor das empanadas, percebi que os argentinos são fanáticos e orgulhosos delas, mas não somente das de carne. Cada região tem o seu costume.

Salta: recheio composto de batatas, ovos duros, cebola, cominho, pimenta e pimentão, além da carne picada na faca e cozida em água.

Jujuy: Entre os ingredientes mais típicos estão a ervilha e as pimentas moídas.

Tucumán: De carne com o acréscimo de uva passa. Além disso, também costumam fazer de pescados.

La Pampa: Se destacam entre seus ingredientes os pimentões, o ovo duro e também as uvas passas.

Buenos Aires: Muito turística, a cidade tenta atender a todos os gostos. Os sabores variam entre as de carne, frango e queijo com cebola.

Chubut e Santa Cruz: Entre os ingredientes mais básicos estão a carne de cordeiro da Patagônia, e, nas zonas costeiras, elas são recheadas com mariscos.