24.10.06

A expectativa pode ser triste

A fama de um lugar sempre nos leva a ele com grande expectativa. E isso, muitas vezes, pode ser triste. Na semana passada, fui a um evento da F-1 na Casa Fasano. Uou! Até de salto alto eu vou trabalhar, pensei.

Mesmo nervosa por causa da responsabilidade de cobrir um evento com um piloto da categoria mais importante do mundo, não tirei da cabeça que, sendo a entrevista na hora do almoço, poderia degustar alguns quitutes maravilhosos da casa. Que nada!

Além de o evento ser completamente desorganizado, com horários não cumpridos e uma papagaiada só em volta dos pilotos – o que não permite que nós trabalhemos direito – só foi servido um buffet de frios.

Todos com fome, afinal de contas eram 14h e ninguém tinha comido ainda – estávamos muito ocupados tentando arrancar alguma resposta boa dos pilotos, o que, no caso, não aconteceu – nos dirigimos para a sala do buffet. Além do tradicional “sushizinho” e “sashimizinho” tinha m-o-r-t-a-d-e-l-a. Pois é... brochei.

Falando com o maridão no telefone, ele perguntou curioso: “E então, o que está comendo de bom?”. “Mortadela!”, respondi podendo sentir que até ele brochou lá do outro lado. Agora eu pergunto, por que raios você faz um evento num lugar tão “chic”, se é pra servir mortadela? Não posso deixar de lembrar da máxima “come-se mortadela e arrota-se peru”.

Aprendi que nada vem de mão beijada nessa vida. Se você quer comer no Fasano, tem que ser por conta....

5.10.06

Você tem medo de quê?

Às vezes você fica com medo de encarar uma receita só porque já ouviu falar de sua reputação. Grandes restaurantes costumam fazê-la com maestria. É tradição em seu país de origem, sua história vem de anos. Blá, blá, blá. Mas posso dizer que, superado o medo inicial, a maioria delas é perfeitamente factível.

Nesta semana tive um dia de folga. Benditos sejam os dias de folga. Mesmo chuvosos eles podem ser antídotos contra a loucura. Resolvi então me enfiar na cozinha e só sair de lá com um banquete para o jantar. Posso dizer que tive sucesso. Minha vítima era o ossobuco alla milanesa. Eu disse vítima? Quis dizer meta.

Depois de folhear meu primeiro livro de gastronomia e ler com calma a tradicional receita, vi que era fácil, só precisava sair e ter certeza que compraria os melhores ingredientes. Feito isso, voltei para minha cozinha e comecei a preparar minha mise en place.

Não era difícil, muito pelo contrário. Pica, doura, refoga, salga, cozinha. E cozinha, e cozinha, e cozinha. O cheiro começou a dominar a casa toda, impregnou na minha roupa e no meu nariz. Eu estava apaixonada por aquilo.

Acompanhei o prato com um simples risoto de erva doce, vinho, e para a sobremesa um creme de chocolate com 70% de cacau, com amargor balanceado por um simples morango. As caretas e suspiros de prazer de meu comensal favorito valeram a semana.

Eu acredito que para você ter prazer na cozinha nem sempre é preciso criar, inventar coisas novas, ser diferente. O prazer pode vir de uma receita simples, carregada de história e tradição. Do manejo dos ingredientes, da sensação da fruta escorregando entre os dedos, do aroma das ervas impregnando o ambiente.

4.10.06

Indicação de leitura


Terminei ontem à noite um dos livros mais interessantes e cativantes que li no último ano. Alho e Safiras, de Ruth Reichl, é uma descrição apaixonada dos prazeres da comida. A autora foi uma das mais festejadas críticas de gastronomia do New York Times e neste livro ela conta a experiência.

Para não receber tratamento especial nos estabelecimentos que estava analisando, Ruth se fantasiava. Ela criou diversos personagens e começou a entrar em sua pele. De loiras gostosonas a senhoras pobres e rejeitadas pela sociedade, ela se divertia com a reação das pessoas e descobria a verdadeira essência dos restaurantes.

A autora mostrou que uma crítica pode ser uma aula de história, passando informações sobre cada ingrediente ou sobre determinados pratos, como eles foram criados e como são degustados em diversos cantos do mundo.

Ruth consegue descrever uma refeição como ninguém, fazendo com que o leitor prove um pouco das sensações pelas quais ela passou e anseie cada vez mais por boa comida, recebendo um incentivo extra para ir à cozinha e começar sua própria obra de arte.