21.12.06

Comece com sabor

Chega o final do ano e nós ficamos muito cansados. A correria aumenta porque todo mundo quer se encontrar, porque temos que comprar presentes, porque os projetos têm que ser finalizados até o último dia de dezembro, por isso e aquilo. Cada um tem o seu motivo.

Mas aí chega o reveillon e parece que um peso sai dos ombros. A sensação é que há uma renovação na noite de 31 de dezembro para 1º de janeiro. Afinal de contas, o ano já acabou, os problemas que ele trouxe podem ficar para traz e nós podemos nos preocupar com novos casos. Pode ser só sensação, mas podemos aproveitar e usufruir dela, mesmo que apenas por uma noite.

Se você é um daqueles que não se sentem assim, que acham que a vidinha vai continuar a mesma, que não é uma noite de comemoração que vai fazer diferença, então afogue as mágoas. Aproveite essa receitinha de suco de romã para atrair dinheiro (tá bom, não vai atrair nada, mas é gostoso!) e essa de saladinha de camarão que ao menos você vai começar bem mais um round.

Suco de romã

Ingredientes:
- 2 litros de água
- ½ xíc de mel
- 2 pedaços de canela em pau
- 3 cravos-da-índia
- 20 romãs maduras


Modo de preparo:


Faça um chá com a água, o mel, a canela e o cravo. Coloque tudo junto em uma penal, ferva por uns 2 minutinhos e, depois de esfriar, leve à geladeira.

Lave as romãs e role-as sobre uma superfície com um pouco de força como se faz com o limão, para quebrar suas fibras e ele soltar mais suco. Abra a romã e bata em seu fundo com uma colher de pau para que saiam os carocinhos. Descarte a parte branca (ela é amarga).

Coloque essas sementes em um pano de prato limpo e pressione-as para tirar o máximo de suco possível. Junte o líquido ao chá gelado, misture e sirva com gelo picado.


Salada de camarão


Ingredientes:
- 50 camarões grandes e limpos
- 2/3 xíc. de azeire
- 750 ml de vinho branco seco
- 1 buquê de ervas (1 folha de louro, ramos de salsinha, manjericão, tomilho, folhas e talos de salsão)
- 18 laranjas-baía
- 1 col de gengibre ralado
- 6 mexericas
- ½ xíc de folha de manjericão
- ½ xíc de folha de hortelã
- 18 xíc de folhas verdes variadas (alface, agrião, rúcula, almeirão etc)
- sal e pimenta-do-reino

Modo de preparo:

Limpe os camarões, coloque-os em uma travessa com sal e azeite suficiente para besuntar todos. Misture bem.

Aqueça em uma panela o vinho, o buquê de ervas e água suficiente para criar vapor. Na boca da panela vai um utensílio para se cozinhar no vapor. Espalhe o camarão nele e, por partes, vá cozinhando os 50 (quando ele estiver pronto deverá mudar de cor. Isso deve levar uns 5 minutos).

Depois de cozidos, coloque-os em uma travessa, cubra-a com filme plástico e leva a geladeira por, no máximo, 1 noite.

Para fazer o molho, esprema 12 laranjas, passe seu suco por uma peneira e leve a uma panela. Deixe ferver até reduzir a aproximadamente 4 col. Ficará um xarope grosso. Acrescente a ele o sal, pimenta e gengibre. Coloque o restante do azeite, e, se precisar, coloque açúcar para corrigir a acidez.

Descasque as mexericas e o restante das laranjas (separe os gomos sem a parte branca). Guarde na geladeira cobertas com um filme plástico.

Somente na hora de servir misture o camarão, os gomos, o manjericão, a hortelã e o molho, acerte o sal e a pimenta e ponha sobre a cama formada pelas folhas verdes.

Receita de Natal


Existe época mais chata que final de ano? Acabou o clima natalino, as pessoas já não se emocionam mais com o sentido do natal, com a virada do ano, início de uma nova fase para muitos. A gente só corre para comprar os presentes, para comparecer a amigo-secreto, reunião de amigos da escola, do trabalho, do prédio, etc, etc, etc.

Você passa o ano inteiro trabalhando ao lado do cara sem se importar se ele está doente, se terminou com a namorada, se está cansado e naquele dia queria com todas as forças estar em casa, mas porque chegou o final de ano você TEM que sair com ele para comemorar. Eu detesto essas coisas, elas me deixam assim, ranzinza.

MAS, um amigo trouxe de volta, pra mim, o espírito que eu gosto de ter no final do ano. Hoje cheguei para trabalhar e fui recebida por uma cartinha escrita com muito carinho, uma declaração de amor, e isso me encheu o coração. A diferença dos casos que comentei é que nós somos amigos o ano inteiro e procuramos zelar um pelo outro sempre, mas o final do ano inspira um algo a mais. O toque dele foi a carta, o meu é uma guloseima, o seu pode ser um abraço e o do fulano um passeio no parque. Mas não adianta fazer isso SÓ no final do ano, faça sempre, e nessa época incremente um pouquinho.

Pra minha ceia de Natal eu quero uma coisa diferente, então resolvi fazer uma terrine de campagne e compota de laranja. Segue a receita do livro Cozinhando para Amigos (fantástico):

Ingredientes para a terrine:

- 250g de lingüiça suína fresca
- 1 kg de pernil de vitelo ou suíno em cubo médio e bem limpo (ou se preferir patinho ou coxão mole)
- 1 cebola grande picada
- 2 dentes de alho picadinhos
- 6 folhas de louro
- 4 ramos de tomilho
- 2 ramos de alecrim
- ½ col. (chá) de canela em pó
- 1 pitada de cravo-da-índia em pó
- ½ xíc. de conhaque
- 1 xíc. de vinho tinto
- 200g de presunto cru em fatias
- 3 ovos
- 2 xíc. de pão de forma branco sem casca e esmigalhado
- 2 – col. (sopa) de mostarda dijon
- 1 col. (sopa) de sal (aproximadamente)
- ½ xíc. de pistache sem casaca torrado
- pimenta-do-reino

Ingredientes para a compota de laranja:

- 2 laranjas médias
- ½ xíc. de vinagre de vinho branco
- 2 xíc. de açúcar
- 1 canela em pau
- 2 cravos-da-índia

Modo de preparo:

Você precisa preparar a terrine com 2 dias de antecedência.

Tire a pele da lingüiça e coloque-a em uma travessa com o pernil, 1 folha de louro, cebola, alho, metade das folhas de tomilho e alecrim, canela, cravo, conhaque, vinho e pimenta. Misture tudo e cubra. Deixe na geladeira por no mínimo 3 horas e no máximo 12.

Coloque o forno para aquecer em 180ºC. Ferva uns 2 litros de água (você fará um banho-maria).

Forre com metade do presunto cru uma terrine grande.

Tire o louro da mistura de carne. Passe-a por um moedor de carne ou pelo processador (nesse caso use a tecla pulsar e não deixe que vire uma pasta homegênea). Em uma tigela coloque a carne, os ovos, o pão, metade da mostarda, o pistache, sal, um pouco de pimenta e misture bem.

Coloque a mistura na terrine e alise sem prensar.

Por cima coloque o restante da mostarda, o louro, tomilho e alecrim. Cubra com o presunto cru que sobrou, forre com papel alumínio.

Pegue uma forma grande e coloque nela a água fervida até chegar à metade da altura. Coloque lá a terrine e leve ao forno por mais ou menos 1h30. Complete com água sempre que secar.

Para ver se ela está pronta, coloque uma faca no centro da terrine e deixe uns 10 segundos. Se a faca sair quente, está ok.

Tire do forno, deixe esfriar e aí coloque na geladeira por pelo menos 12 horas ou até 3 dias.

Para a compota:

Na véspera, pelo menos, lave as laranjas, seque-as, corte-as em rodelas de 0,5 cm de espessura, com casca e tudo. Tire as sementes. Coloque tudo em uma panela média, cubra com água e aqueça. Após 30 minutos a partir da fervura, desligue o fogo. Descarte a água.

Em outra panela aqueça 1 litro de água, o vinagre, o açúcar, a canela e o cravo, mexa até dissolver tudo e deixer ferver por uns 5 minutos. Junte a laranja e cozinhe em fogo baixo por mais 30 minutos ou até ela amolecer.

Depois de esfriar transfira para um pote hermético e guarde na geladeira por até um mês. Sirva a terrine com a compota.

16.12.06

Uma estrela de Natal

Ontem fui a um daqueles jantares de Natal que sempre organizamos usando a data para rever os amigos. Foi no apartamento de uns colegas recém-casados que moram no ABC. Uma fofura o lar, cheio de referências ao Natal, com presépio e Bíblia aberta – uma coisa que hoje só encontramos na casa de (alguns) nossos pais.

Pois bem, depois de enfrentar um trânsito de 2 horas e morrendo de fome, chego ao meu destino. Os anfitriões estavam terminando de dar os toques finais na comida e alguns amigos estavam na cozinha conversando e tirando a atenção deles.

Uma delicadeza da dona da casa, que deveria ser apenas um gesto de carinho para com os demais, revelou a ignorância da nossa geração, criada em apartamentos comendo comidas congeladas de supermercado.

Um de nossos amigos viu o prato de arroz com legumes enfeitado com carambolas e soltou pra mim, que chegava naquele momento: “Olha só, ela até cortou a carambola em formato de estrela!”.

Tiramos sarro dele e continuamos a conversa, meio que sem querer acreditar. Mas era verdade, ele nunca tinha visto uma carambola in natura. Nunca. Como assim?! Eu comia carambolas no pé na chácara da minha amiga Roberta quando tinha meus 15 anos!!

A dona da casa o presenteou com uma carambola e o ensinou a “cortar em formato de estrela”. Uma pena. Ele merecia continuar achando que ela tinha tido o enorme trabalho de fazer aquelas estrelinhas douradas.....

14.12.06

Pastel de belém ou de nata?


Na semana passada meu marido esteve em Portugal, numa cidadezinha chamada Santa Maria da Feira, próxima do Porto. Depois de uma viagem de umas 20 horas, que incluiu atrasos já corriqueiros no Brasil, ele chegou à cidade com fome, o pobre, e foi a um barzinho que tinha ao lado do hotel ver o que conseguiria comer.

Eis que ele pede um pastel de belém, e o aponta na vitrine. Como assim pastel de belém?! Isto é um pastel de nata! Tudo bem, me vê um pastel de nata então, por favor. Sem saber a diferença, ele se deliciou com o doce e ainda teve a coragem de perguntar para a brava senhora qual era a diferença, e nem ela soube responder. Minha avó chamava de pastel de nata, então é pastel de nata.

Coube a mim, portanto, descobrir qual é a diferença das delícias –não que isso importasse tanto na hora de comê-las. Mas, confirmando minhas suspeitas, percebi que são iguais. Apenas os originais, fabricados em Belém, são chamados de pastel de belém. No resto de Portugal eles recebem o nome de pastel de nata.

A história desse pecado em forma de doce é bem interessante. Segundo conta o site da doçaria que o produz desde 1837, no início do século XIX, em Belém, havia uma refinaria de cana-de-açúcar nas proximidades do Mosteiro dos Jeronimos. Com a Revolução Liberal de 1820, todos os conventos de Portugal foram fechados em 1834.

Um homem não identificado do Mosteiro, na tentativa de sobreviver, começou a vender no mesmo local um pastel doce, que logo foi chamado de pastel de belém. Em 1837 começou uma produção maior do doce, cuja receita é mantida secreta até hoje, e onde os pasteizinhos ainda são produzidos artesanalmente.

Mas como sou enxerida, acabei descobrindo uma receita, que se não é a original, está perto. O trabalho é grande, portanto se você está muito atarefado com os preparativos das festas de fim de ano, indico os pastéis do Espírito Santo, um bar ali do Itaim, na Horácio Lafer, 634.

Ingredientes:

Para a massa folhada:

• 1 kg de farinha de trigo
• 1 kg de manteiga amolecida (dividida em 2 blocos de 150 g e 850 g)
• 20 g de sal
• 1/2 litro de água

Para o Recheio:

• 1 litro de creme de leite fresco
• 18 gemas de ovos
• 18 colheres de açúcar


Modo de preparo:


Para a massa folhada:

• Misture a farinha, 150 g de manteiga, o sal e a água em uma batedeira e bata devagar, até formar uma bola;
• Retire, faça uma cruz em cima e guarde na geladeira por 2 horas;
• Abra a massa em cruz e coloque 850 g de manteiga dentro;
• Dobre como se fosse um envelope, dando uma volta simples e uma volta dupla na massa e deixe descansar por 1 hora;
• Dê mais uma volta simples e outra volta dupla na massa e deixe descansar por mais 1 hora antes de usar;
• Coloque em forminhas de empada e deixe descansar por 30 minutos.

Para o recheio:

• Num recipiente coloque primeiro as gemas, depois o açúcar e por último o creme de leite fresco;
• Leve ao fogo e vá mexendo sem parar até ferver;
• Retire do fogo, coloque em uma vasilha e leve à geladeira até a calda ficar cremosa;
• Com o creme encha as forminhas que já estão com a massa e leve ao forno pré-aquecido à 350º;
• Deixe assar até a massa e o creme ficarem dourados.

4.12.06

E as empanadas, cadê?

Ah! As empanadas. Pra ser bastante sincera fui para a Argentina mais ansiosa pelas empanadas que pelo churrasco. Eu iria comê-las pelo menos duas vezes por dia, no café da manhã e no chá da tarde.

Chegando a Buenos Aires a primeira coisa que fui fazer foi matar a fome depois de horas no aeroporto por causa dos problemas com os controladores brasileiros. Caminhando pelo centro me sento em um café aparentemente tradicional, apesar da localização turística. Depois de descobrir que os garçons geralmente demoram uns 10 minutos para irem até sua mesa anotar o pedido, mesmo você o chamando insistentemente –eu estava com fome!-, tive minha primeira frustração: “Só temos empanada de frango”. Bom, manda duas, por favor.

A danada até que era saborosa, mas não chegava nem aos pés daquelas que eu costumo comer em São Paulo, em uma casa de empanadas de um argentino.

Minha busca continuou e eu fui percebendo que comer uma empanada de carne em Buenos Aires seria muito difícil. “Só temos de frango”, era o que me diziam em cada casa que entrava.

Contando os sete dias que fiquei na capital, posso dizer que consegui comer empanadas de carne somente três vezes. Meus planos de café da manhã e chá da tarde foram esquecidos e trocados por croissants e assados de queijo e cebola.

Daquelas de carne que consegui encontrar, as do restaurante La Chacras eram as melhores. Um local típico, que se auto-intitula o mais tradicional da Argentina, as serviam como entradas. Em meio a cabeças de veados e javalis empalhadas nas paredes, me deliciei.

Elas eram assadas no ponto certo e tinham a umidade ideal, que deixava o recheio com um caldinho perfumado de especiarias, com uma carne moída bem temperada dentro.

Tentando descobrir se Buenos Aires é consumidor das empanadas, percebi que os argentinos são fanáticos e orgulhosos delas, mas não somente das de carne. Cada região tem o seu costume.

Salta: recheio composto de batatas, ovos duros, cebola, cominho, pimenta e pimentão, além da carne picada na faca e cozida em água.

Jujuy: Entre os ingredientes mais típicos estão a ervilha e as pimentas moídas.

Tucumán: De carne com o acréscimo de uva passa. Além disso, também costumam fazer de pescados.

La Pampa: Se destacam entre seus ingredientes os pimentões, o ovo duro e também as uvas passas.

Buenos Aires: Muito turística, a cidade tenta atender a todos os gostos. Os sabores variam entre as de carne, frango e queijo com cebola.

Chubut e Santa Cruz: Entre os ingredientes mais básicos estão a carne de cordeiro da Patagônia, e, nas zonas costeiras, elas são recheadas com mariscos.

25.11.06

Pra refrescar, vá de limão com manjericão

Minha família parece que só se reproduz no carnaval. Entre os dias 21 e 24 de novembro nada menos que minha mãe, meu pai e meu irmão fazem aniversário. Nada melhor, portanto, que uma festa conjunta. E nada mais brasileiro que um belo churrasco em um dia de calor insuportável como o deste sábado.

Ao fim da festa, que teve a presença de uns 30 ilustres convidados, contamos o consumo de 30 litros de refrigerante, fora os 21 litros em latas de cerveja e outros tantos de água. Mas, adepta dos alimentos naturais que sou, prefiro ficar com os sucos, e se você não tiver que servir muitas pessoas, pode tentar um que adoro para os dias ensolarados:

Suco de limão com manjericão

Faça uma limonada forte e adoce conforme seu gosto. Coloque-a no liquidificador com algumas pedras de gelo e um punhado de manjericão para cada litro. Bata tudo o suficiente para deixar as pedras moídas.

Uma mistura simples, mas que foge da combinação habital com o hortelã, dá um toque inusitado para a bebida, que além de refrescar deixa todos intrigados para descobrir “o que você colocou aqui?”.

24.11.06

Mi Buenos Aires querida!

Recém-chegada da Argentina, onde desfrutei de dez dias ensolarados de férias, retomo meus escritos. De lá trago muita comida gostosa (não só carnes) e um paraíso de restaurantes na capital Buenos Aires. O Porto Madero. Onde antes funcionava um porto, hoje são quilômetros e quilômetros de restaurantes.

É incrível. Você começa em uma ponta e parece que aquilo nunca vai terminar. Para os paulistas, que adoram shopping, o Porto Madero funciona como um, mas só de comida. E tem para todos os gostos, restaurantes italianos, japoneses, churrascarias, rodízios parecidos com os brasileiros, restaurante de peixes, pague fixo e coma à vontade, blockbusters como Burguer King e Friday´s, cafeterias e sorveterias, dos chiques aos mais bregas. Você pode passar meses lá sem ter que repetir.

Ta certo que no final de semana, ainda mais os ensolarados, aparecem muitos turistas –afinal de contas, lá é um ponto turístico. Mas se você tiver a oportunidade de freqüentar o local durante a semana, poderá tentar se passar de argentino e aí é que está a graça.

O Porto Madero antes funcionava como um porto de verdade, mas com a construção de um mais moderno, o local ficou abandonado. A cidade, no entanto, resolveu restaurá-lo e hoje podem-se ver predinhos baixos, de tijolinho aparente, onde nos andares de cima funcionam escritórios e no térreo os restaurantes. Um charme.

Como o “complexo” fica à beira do Rio da Prata, cada restaurante tem uma área externa, com mesinhas voltadas para um braço do rio, onde ficam ancorados iates e barcos menores. Em um dia ensolarado, são essas as mesas que mais valem à pena.

Para minha surpresa, meu restaurante eleito no Porto Madero foi um italiano, e não um de carnes, como imaginei ao deixar o Brasil. Não é um restaurante de assinatura, um daqueles que tem um chef estrela e um nome a zelar, mas ele se mostrou o melhor custo benefício e nos proporcionou algumas surpresas. É o Sottovoce.

Meu prato preferido foi um frango ao molho de curry, amêndoas (fartas) e creme, acompanhado de arroz de especiarias. O sabor de personalidade era balanceado e o visual extremamente atraente. As massas também não deixaram a desejar e o spaghettini a puttanesca estava excelente. Eles usaram uma massa próxima do cabelo de anjo, o que deixava o prato que é forte por causa das azeitonas pretas e anchovas, um pouco mais leve. O couvert também encantava. Era formado por pãezinhos frescos, feitos no próprio restaurante, com boa variedade, alguns crocantes, outros mais macios e mais salgados.

Comparando com os restaurantes brasileiros, os preços eram baixos, sendo possível que duas pessoas comessem com entrada, prato e vinho por aproximadamente R$ 50 –uma característica que se confirmou em outros restaurantes de Buenos Aires e se intensificou no interior do país (assunto para um outro post).

A Argentina se mostrou muito farta para os apreciadores da boa comida, com bons restaurantes, vinhos e atendimento impecável. A rixa tradicional que temos com nossos visinhos pode ser facilmente esquecida dando um pulinho até lá.

24.10.06

A expectativa pode ser triste

A fama de um lugar sempre nos leva a ele com grande expectativa. E isso, muitas vezes, pode ser triste. Na semana passada, fui a um evento da F-1 na Casa Fasano. Uou! Até de salto alto eu vou trabalhar, pensei.

Mesmo nervosa por causa da responsabilidade de cobrir um evento com um piloto da categoria mais importante do mundo, não tirei da cabeça que, sendo a entrevista na hora do almoço, poderia degustar alguns quitutes maravilhosos da casa. Que nada!

Além de o evento ser completamente desorganizado, com horários não cumpridos e uma papagaiada só em volta dos pilotos – o que não permite que nós trabalhemos direito – só foi servido um buffet de frios.

Todos com fome, afinal de contas eram 14h e ninguém tinha comido ainda – estávamos muito ocupados tentando arrancar alguma resposta boa dos pilotos, o que, no caso, não aconteceu – nos dirigimos para a sala do buffet. Além do tradicional “sushizinho” e “sashimizinho” tinha m-o-r-t-a-d-e-l-a. Pois é... brochei.

Falando com o maridão no telefone, ele perguntou curioso: “E então, o que está comendo de bom?”. “Mortadela!”, respondi podendo sentir que até ele brochou lá do outro lado. Agora eu pergunto, por que raios você faz um evento num lugar tão “chic”, se é pra servir mortadela? Não posso deixar de lembrar da máxima “come-se mortadela e arrota-se peru”.

Aprendi que nada vem de mão beijada nessa vida. Se você quer comer no Fasano, tem que ser por conta....

5.10.06

Você tem medo de quê?

Às vezes você fica com medo de encarar uma receita só porque já ouviu falar de sua reputação. Grandes restaurantes costumam fazê-la com maestria. É tradição em seu país de origem, sua história vem de anos. Blá, blá, blá. Mas posso dizer que, superado o medo inicial, a maioria delas é perfeitamente factível.

Nesta semana tive um dia de folga. Benditos sejam os dias de folga. Mesmo chuvosos eles podem ser antídotos contra a loucura. Resolvi então me enfiar na cozinha e só sair de lá com um banquete para o jantar. Posso dizer que tive sucesso. Minha vítima era o ossobuco alla milanesa. Eu disse vítima? Quis dizer meta.

Depois de folhear meu primeiro livro de gastronomia e ler com calma a tradicional receita, vi que era fácil, só precisava sair e ter certeza que compraria os melhores ingredientes. Feito isso, voltei para minha cozinha e comecei a preparar minha mise en place.

Não era difícil, muito pelo contrário. Pica, doura, refoga, salga, cozinha. E cozinha, e cozinha, e cozinha. O cheiro começou a dominar a casa toda, impregnou na minha roupa e no meu nariz. Eu estava apaixonada por aquilo.

Acompanhei o prato com um simples risoto de erva doce, vinho, e para a sobremesa um creme de chocolate com 70% de cacau, com amargor balanceado por um simples morango. As caretas e suspiros de prazer de meu comensal favorito valeram a semana.

Eu acredito que para você ter prazer na cozinha nem sempre é preciso criar, inventar coisas novas, ser diferente. O prazer pode vir de uma receita simples, carregada de história e tradição. Do manejo dos ingredientes, da sensação da fruta escorregando entre os dedos, do aroma das ervas impregnando o ambiente.

4.10.06

Indicação de leitura


Terminei ontem à noite um dos livros mais interessantes e cativantes que li no último ano. Alho e Safiras, de Ruth Reichl, é uma descrição apaixonada dos prazeres da comida. A autora foi uma das mais festejadas críticas de gastronomia do New York Times e neste livro ela conta a experiência.

Para não receber tratamento especial nos estabelecimentos que estava analisando, Ruth se fantasiava. Ela criou diversos personagens e começou a entrar em sua pele. De loiras gostosonas a senhoras pobres e rejeitadas pela sociedade, ela se divertia com a reação das pessoas e descobria a verdadeira essência dos restaurantes.

A autora mostrou que uma crítica pode ser uma aula de história, passando informações sobre cada ingrediente ou sobre determinados pratos, como eles foram criados e como são degustados em diversos cantos do mundo.

Ruth consegue descrever uma refeição como ninguém, fazendo com que o leitor prove um pouco das sensações pelas quais ela passou e anseie cada vez mais por boa comida, recebendo um incentivo extra para ir à cozinha e começar sua própria obra de arte.

25.9.06

Tapioca

Os mais puristas dizem que a tapioca tem que ser comida simples, apenas com uma manteiguinha em cima. No café da manhã é uma maravilha! Diria amigo de meu marido. E eu teria acreditado e concordado, não fosse uma amiga canadense. Precisei que uma estrangeira me mostrasse o quando uma tapioca pode ser saborosa.

Alimento indígena, a tapioca, ou beiju, ganhou admiradores nos colonizadores portugueses, que a viram como substituta do pão. Hoje ganhou status e já ocupa cardápios de restaurantes por todo o país.

Doce ou salgada ela pode ser extremamente saborosa, ou muito sem graça. Tudo depende do toque que você der aos recheios. Uma noite de tapioca com os amigos pode ser um evento bastante divertido, com cada um escolhendo seus ingredientes e montando seu próprio prato. Esqueça as tapiocas de quiosques de shopping, faça-as em casa.

Para a salgada:
Ingredientes:
- Goma (compra-se em feiras livres)
- Abacate maduro amassado
- Tomate picado em cubos pequenos
- Cebola
- Azeite
- Queijo coalho
- Orégano seco
- Sal

Modo de preparo:
-Refogue a cebola picadinha no azeite. Coloque um pouco de sal sobre ela quando estiver com o óleo quente para que ela solte água e fique macia e cozida.
- Esquente uma frigideira antiaderente untada com óleo, manteiga ou azeite. Quando ela estiver bem quente, distribua a goma sobre ela, formando uma camada de farinha, como se fosse uma panqueca. Com uma colher de pau, pressione a goma para que ela frite.
- Quando a goma estiver compacta, soltando da panela e levemente morena na parte debaixo, vire-a.
- Enquanto o lado cru toma cor, coloque sobre metade dela fatias de queijo coalho, o abacate amassado, os tomates picados, a cebola refogada, polvilhe com sal e orégano. *Não coloque muito recheio senão ele cairá todo pelas bordas.
- Dê dois minutos e dobre a “panqueca” de tapioca sobre ela mesma, formando um tipo de taco mexicano. A massa deverá estar firme e o recheio levemente derretido e morno.
- Sempre passe um papel toalha na frigideira entre uma tapioca e outra, para tirar os restos de farinha que poderiam ficar queimando na frigideira.

Para a doce:

Ingredientes:
-Doce de leite cremoso
-Uva passa
-Conhaque

Modo de preparo:
- Deixe as uvas de molho no conhaque por meia hora
- Escorra as uvas e misture-as com o doce de leite. Misture bem
- Prepare a “panqueca” de tapioca da mesma forma que a salgada, mas ao invés do recheio salgado, coloque a mistura do doce de leite e das uvas passas. Fica delicioso.

20.9.06

A feira livre ainda vale a pena?

No último fim de semana aproveitei para ir à feira. Uma boa feira que achei meio sem querer. Quem, hoje, faz compras na feira com freqüência? Eu não. Eu vou ao sacolão que fica ao lado de casa. Ele é limpo, aceita cartão de crédito, tem funcionários educados, é todo iluminado e me protege da chuva.

Pra que ir à feira? Pelo contato humano. Pelas dezenas de frutas que você prova – e acaba levando para casa – no caminho até a banca de flores. Pelas próprias flores. Pelo pastel! Nada melhor que um pastel de feira pra começar o dia.

O último domingo mudou minha percepção do que é bom ou ruim. Lá no Paraíso, nessa longa feira, vi que a concepção que eu tinha de caro e barato, confortável ou não, divertido e saudável foi alterada. Por mais que “no sacolão ali ao lado” os produtos tenham qualidade, não se compara à feira. Sim, em alguns casos ela é mais cara, mas até nisso existe flexibilidade. Quanto mais cedo você for, mais caro vai pagar. Se chegar lá pela hora do almoço, pode ser que não encontre produtos tão bonitos, mas eles continuarão sendo frescos, limpos e o preço estará melhor.

Mas mesmo no “horário de pico”, você consegue pechinchar e sair de lá com sacolas cheias de bons produtos e muito papo fiado – um dos muitos prazeres da feira. Por mais que você seja uma pessoa “fechada”, mal-humorada e que não goste de bater papo com qualquer um, é inevitável sorrir com as brincadeiras dos feirantes, com a facilidade com a qual eles baixam o preço do quilo do tomate ou com as “antiguidades” vendidas na barraca de tranqueiras, como os carrinhos de feira que sua avó usava e que ainda são muito úteis.

Ficou claro pra mim que ir à feira ainda vale a pena, deixando um gostinho de que assim posso contribuir, mesmo que pouco, para a retomada da valorização do que é nosso e da tão falada diversidade cultural. Sentimento reforçado depois que li um artigo da revista Slowfood – um movimento maravilhoso – que falava sobre o perigo da desumanização dos mercados e feiras pelo mundo. Muitos estão sendo obrigados a mudar de lugar, deixando o centro das cidades e sendo relegados à periferia, em pontos de difícil acesso. Além disso, as pessoas que antes se identificavam com um espaço, já não mais se reconhecem em outros corredores. Você que é de São Paulo, imagine se o Mercadão fosse transferido para Santo Amaro, por exemplo. Será que seria igual?

Outro ponto que o artigo ressaltava era a importância de cada fator nos mercados e feiras livres. O produto em si e o contato com o vendedor deixaram de ser tão importantes, abrindo mais espaço para as negociações monetárias. A diversidade cultural gigantesca que se reúne em um espaço como esse já não é mais notada e muito se perde por aí.

Eu não quero pregar nada contra nenhuma grande cadeia de supermercados ou até aos tão acessíveis sacolões, mas se você der uma chance à feira, aposto que vai gostar e querer voltar todas as semanas.

13.9.06

Toque do NYT

O NYT publicou nesta quarta-feira uma nota estragando um prazer de muitos norte-americanos. O jornal diz que o Centro para Ciência dos Interesses Públicos fez um estudo e “descobriu” que tomar café na famosa rede Starbucks pode custar mais gordurinhas que comer no McDonald´s.

Vamos aos números. Tomar o Caffè Mocha com creme da rede significa que você está ingerindo 490 calorias (!!), o equivalente a um Quarteirão com queijo. Mais: o Java Chip Frappuccino tem 650 calorias.

Outra notinha que me chamou a atenção nesta edição diz respeito aos defensores dos direitos dos animais. Depois de Chicago parar de vender foie gras, o mercado Whole Foods parou de vender lagostas vivas. Agora foi a vez da Ben and Jerry pedir para que as pessoas não comprem ovos vindos de uma fazenda que a Sociedade Humana dos Estados Unidos acusou de maltratar seus animais.

Enquanto isso, a empresa está firmando acordos com fazendeiros que assumem a responsabilidade de tratar adequadamente seus animais, em troca da permissão de uso de um adesivo com o dizer “Certificado Humanitário”.

12.9.06

Um vegetariano criativo

São Paulo tem boas opções de restaurantes vegetarianos. Poucas (se se levar em conta o número de casas gastronômicas na cidade), mas boas. Confesso que não comi em muitos, mas dos que provei, sem dúvida alguma o Vie Verte é o melhor. Pequeno, voltado para o público que trabalha na região (limitando um pouco seu alcance) e muito criativo.

Infelizmente, assim como a maioria das casas vegetarianas, ele só abre durante a semana no horário do almoço. Seu cardápio, no entanto, se diferencia. Sempre em mutação, ele é criativo, delicado e algumas vezes até sofisticado. Tanto é que já conquistou clientes cativos, cujos gostos já são conhecidos pelas garçonetes. Basta um “o de sempre” para que sejam servidos.

Um prato tradicional, que não sai do cardápio, é o dahl. Uma sopa indiana servida antes do principal. Deliciosa e bastante apimentada, ela ajuda a confortar o estômago dos famintos.

As saladas são o ponto fraco do cardápio. Corriqueiras, elas não trazem muitas novidades, mas cumprem seu papel. Já os pratos principais deliciam até aqueles que olham torto quando se fala a palavra vegetariano. De terça-feira, por exemplo, tem a opção “escalopinho natural ao molho de carambola”. O conceito do prato é excelente, apesar de o molho ser muito consistente e doce. Ele vem acompanhado de arroz integral, no ponto certo, e de uma empadinha de tomate seco, mussarela de búfala e rúcula. Apesar do recheio não ser nenhuma novidade, a tortinha é muito bem executada, com uma massa deliciosa.

O ratatouile com farofa de castanhas, que é um assado de legumes, distribui o sabor pela boca. Há também a Feijoada Light, que vem separada do restante dos alimentos, em uma cumbuquinha. Os acompanhamentos são banana assada, farofa de pipoca – muito inventiva e saborosa -, verdura refogada e arroz de açafrão. O prato sacia a vontade de uma feijoada, mas sem deixar o estômago estufado como as comuns.

Para completar, a sobremesa não deixa a desejar. Você sempre tem a opção de comer uma fruta, ou um doce. Hoje, por exemplo, tinha pudim de iogurte. Fantástico. Leve, um jeito perfeito de encerrar uma refeição. Já provei também o pudim com molho de rosas. Sem igual. A tortinha mousse de limão fica na mesma linha, doce o suficiente para matar a vontade e leve a ponto de não estragar a refeição que acabou de fazer. Você sai de lá com um sorriso no rosto, satisfeito em quantidade e qualidade.

O Vie Verte fica na rua Rua Bianchi Bertoldi, 128, uma paralela à Av. Faria Lima, na proximidade do cruzamento com a Av. Rebouças.

28.8.06

Santíssima Trindade

Outro dia eu ouvi uma expressão fantástica, “Santíssima Trindade dos temperos”. Ela foi usada para se referir ao cominho, coentro e cúrcuma, bastante usados pelos indianos. Isso me fez lembrar que, mesmo em uma cidade como São Paulo, nem sempre é fácil encontrar todos os temperos que se procura para um prato típico.

Eu tenho uma amiga canadense, com descendência grega, e que adora fazer combinações indianas e naturais. Ela tem uma receita de molho perfeita para diversos pratos, de acompanhamento para carnes a recheio de tapioca. Só que os ingredientes ela recebe da mãe, que ainda está na América do Norte.

Em um fim de semana de ócio de agosto, porém, eu fui ao Empório Santa Maria, que fica na Cidade Jardim, em São Paulo, e encontrei a maioria desses temperos. O lugar é excelente para quem busca produtos importados das mais variadas naturezas (animal ou vegetal, in natura ou processado).

É verdade que você vai pagar um pouco caro, mas dificilmente encontrará isso em outro ponto da cidade. Nem no Mercadão, um paraíso de temperos, eu encontrei coisas como o pepper powder, que não é exatamente apenas pimenta em pó. Ou fennel greek e até maple syrup, paixão dos canadenses.

Quando se descobre um lugar assim na cidade – que nem era escondido, mas que pertence a um “outro mundo” -, é motivo para se comemorar e usar. Claro que eu prefiro um pequeno produtor que fica na esquina do bairro, mas nem sempre ele tem o que precisamos.

21.8.06

Encher a boca de sabor

Como diz Anthony Bourdain, jantar em restaurante “chique” não pode ser aos sábados. Os ambientes estão lotados, os funcionários estão estressados e os cozinheiros não têm tempo para dar aquele toque no seu pedido.

Por mais que a comida seja deliciosa, ela nunca estará em seu máximo. O ideal mesmo é ir numa terça-feira ou numa quarta-feira. Os cozinheiros estão descansados, iniciando sua semana, com ingredientes fresquíssimos e com a casa um pouco mais vazia, permitindo que eles se expressem melhor.

No último fim de semana fui a um bistrô francês em Higienópolis, São Paulo. O Ici Bistrô. Estávamos em quatro. Esperamos mais de uma hora por uma mesa. O sono e a fome já eram tantos, que mal conseguimos aproveitar nossos pratos.

Um atum com molho de gengibre e purê de batatas com raiz forte foi a minha escolha. Fantástica, por sinal, mas a execução poderia ter sido melhor. A combinação era muito boa, mas o atum tem que estar mal passado, tem que ter seu interior bem rosado. O meu estava além do “ao ponto”, o que tirou sua principal graça.

A salada de baby agrião com pato crocante e a arraia vieram mais afinadas. Outra delícia são os escargos. Macios e com um molho à provençal inundaram a boca de sabor.

Falando em inundar a boca de sabor, o Amsterdã Café, que fica na Melo Alves, região da Av. Paulista, conseguiu o feito com um prato muito simples. Um risoto de gengibre. Quando você vai a um restaurante que nunca pisou antes, tem que estar preparado para receber um desastre na mesa. Eu estava, mas fui surpreendida.

Tanto o risoto de gengibre quando o de limão e alecrim estavam divinos. A consistência era perfeita e os sabores completavam toda a boca, ao invés de apenas passar pela língua e descer garganta abaixo. Recomendo e volto.

16.8.06

Viagem de autoconhecimento

A onda de blog instaurada nos melhores sites de conteúdo da internet brasileira veio ao encontro de uma outra onda, um pouco mais particular, de auto-estima.

Nesta tentativa de retomada do Con gusto inicio uma viagem de descoberta de sabores, culturas, curiosidades, personalidades e tendências, o que não deixa de ser uma viagem de autoconhecimento.

Uma miscelânea de tradição toda encarnada em uma recente amizade me despertou para a culinária indiana e seu cheiro de cominho. A simplicidade de suas receitas e a complexidade de seus cheiros e gostos constituem um cenário perfeito para os iniciantes – como eu – que conseguem administrar com eficiência os pratos e, ao mesmo tempo, aprender com as sensações resultantes.

Apesar de a variedade de temperos usados pelos indianos – e também pelos marroquinos – parecer infinita, há alguns que se repetem com maior freqüência. É o caso do cominho supracitado. Seu cheiro característico e forte pode ser enjoativo em determinado estágio, mas para mim continua atraente. Muito usado em pó, também pode ser encontrado em semente. Assim como o coentro em pó, ou semente, geralmente é frito para exalar seus aromas antes de ser incorporado ao restante do prato.

O coentro, aliás, também é muito usado fresco. Com gosto marcante, tem aparência semelhante à da salsinha, mas paladar nada parecido. Misturado a um molho de iogurte, é divino.

A pimenta também está bastante presente, em forma de pó, moída na hora ou fresca dá, além do gosto picante, um aroma diferente aos pratos. Com carne de vaca ou franco, cai muito bem.

Sem esquecer também do curry, que no Brasil nem sempre é bem utilizado, dando a alguns pratos um gosto muito “maçante”. Para se assar um frango no forno tandoor, ele cai como uma luva, conferindo um bronzeado sem igual. As folhas de curry também são um ingrediente importante da culinária indiana, mas difíceis de serem achadas no Brasil. Misturadas com leite de coco, sementes de mostarda e tomates, formam um molho inigualável.

O que me agrada também na cozinha da Índia são as porções, pequenas, mas bastante variadas, todas em uma só refeição. Um de meus maiores prazeres é provar vários sabores “em uma sentada só”. O almoço, ou o jantar se tornam um momento de relaxamento, descobertas e aproveitamento – funções que sempre tento atribuir às minhas refeições.